https://goo.gl/maps/CVqiuogtGD32
Olá galera, fãs das aventuras motociclísticas dos M C Dragões das Sombras (na verdade não precisam ser fã nem conhecer, escrevi isso apenas para criar um clima e instigar a curiosidade em voces) segue mais uma narração do passeio realizado pela dupla Véio e Lú, por estradas que contornam o Estado de Minas Gerais...ou quase, no período de 08 à 28/09/15.
Quebrando os paradigmas
(ainda tenho que pesquisar a terminologia para saber o que significa – mas é
tão bonita que decidi usar) e como prova que o Cássio está trabalhando seu TOCzinho (transtorninho obsessivinho
compulsivinho) quanto a ter controle
sobre tudo, fizemos uma programação mínima. Apenas preparamos a Fiona,
compramos roupas íntimas descartáveis, pintei as minhas unhas e os cabelos,
mapeamos alguns destinos que nos levássemos até a Bahia sem passar por Minas
Gerais. Nada de reservas antecipadas, mapas desenhados, apenas nós e a estrada.
O Véio ficava repetindo uma frase em inglês, que eu não entendi, mas acho que
se referia “a sem destino”, ou era alguma reza para amenizar a ansiedade...quem
sabe?
Saímos às 5h30min do dia
08/09/15. Isso mesmo que vocês estão lendo, não foi apenas o Véio que fez
concessões para esta viagem, eu também fiz. Acordei cedinho em todos os dias
sem reclamar. Foi interessante, pois presenciei um fenômeno que já tinha ouvido
falar: o nascer o Sol. Acreditem só, o Astro Rei vai surgindo devagarzinho no
céu escuro, tingindo tudo com seus raios luminosos. Bem bonito, mas sempre é
igual. Fico pensando que o Sol poderia inovar um pouco, diversificar e etc., já
está muito démodé, e com tanta
tecnologia disponível pela internet, sei lá, mas é claro que isso é apenas a
minha humilde opinião pessoal.
A
temperatura estava mediana com previsão de chuva forte. Ah, esqueci-me de falar
que acompanhávamos diariamente a meteorologia. Era uma viagem desprendida e
quase sem destino, mas sem exageros. Saber a quantidade de água na estrada e
questão de segurança, principalmente porque eu tinha, como já disse, arrumado o
meu cabelo. Umidade x chapinha X chuva, combinação desastrosa. O passeio era para
nos sentirmos livres e não feios.
Ainda no Rodoanel, logo após
o túnel, desabou uma tempestade com vento. Paramos na Central de Apoio e
vestimos as capas de chuva sobre a roupa que é resistente a água, e que embora
não encharque fica um pouco molhada, bem como as luvas. A questão não é a
semimpermeabilidade das peças e sim os punhos e golas que sugam a água,
transferindo-a para as blusas, bermudas e no caso do Véio que tem as pernas
longas, para dentro da bota. Detalhe, a bota do Cássio, além de ter 09
centímetros de altura, que é simplesmente um luxo, é também plenamente
impermeável, formando um recipiente não desejado, mas hermeticamente eficiente
para transporte de líquidos não potáveis.
Após uns 100 quilômetros a
chuva foi-se e o combinado das roupas mais a capa plástica para chuva e mais o
calor próprio da região personificou o conceito utilizado nas saunas. Desconfortáveis
e muito motivados, mesmo após 08 horas de estrada, chegamos até Búzios no Rio
de Janeiro, onde eu descobri que o nome correto é Armação de Búzios, e o gentílico
é Buziano (ooh meus deuses afrodescendentes). Na Central de Atendimento ao
Turista pegamos um mapa com informações e nos hospedamos na Praia da Ferradura,
já no final do dia, pela localização privilegiada da proximidade com a praia,
esta conhecida pela beleza natural e calmaria das águas. Fato que se confirmou.
Local lindo e também com uma infestação de insetos alados sugadores de sangue. O
pior é que a pousada não tinha qualquer sistema de prevenção, fato que não
verificamos inicialmente, apesar do preço de 04 estrelas. O colchão e os
travesseiros muito usados e duros, faltavam tomadas e locais para estender as
roupas molhadas. Para ser justa nunca tem local para secagem de roupas. Acho
que os hospedeiros acreditam que esse detalhe é insignificante, que todos os
viajantes são portadores de poderes mágicos para cuidar das roupas sujas e
molhadas, principalmente em região de acesso a praias, rios e piscinas. Aí
colocam os tais bilhetinho “proibido pendurar peças nas varandas ou usar
secador de cabelo para outras funções e etc., sujeitos a multas e tal e tal”.
Lembram-se da chuva, aquela
mesma de São Paulo, chegou junto conosco, implicando na queda da temperatura e
ventos, de forma que não nos banhamos no mar, apenas circulamos pela cidade,
que é completamente vocacionada para o turismos. Com restaurantes temáticos,
aconchegantes, com uma gastronomia gourmet
e garçons poliglotas, verdadeiros
profissionais e não apenas servidores de mesa. No período estava lotada de
estrangeiros, principalmente os hermanos argentinos.
Antes de nos hospedarmos
paramos no Bairro Manguinhos, no pátio de um shopping para ler o mapa, assim,
decidimos retornar no dia seguinte para almoçar. Eu, além de ter dificuldades
com lateralidade, estradas de terra e locais fechados, também, descobri, não
tenho noção de distância e sugeri ao Véio irmos caminhando até o local. Assim,
eu calçando um chinelinho de dedo, iniciamos o percurso. Muito tempo depois com
algum esfolamento nos pés e superinteressada para conhecer o banheiro mais
próximo, escolhemos um restaurante e pedimos um rissoto de camarão. Enquanto esperávamos o prato, beliscamos uma baguet com o melhor, mais maravilhoso,
surpreendente e delicioso azeite de oliva consumido em minha vida. É, vocês
devem estar esperando eu terminar com os adjetivos superlativos e informar a
marca ou pelo menos o nome do produto, mais, então, não sei....perdida nos
prazeres do sabor esqueci-me do básico. Verdade, o rissoto estava delicioso também.
No dia seguinte descobrimos
que tínhamos caminhado 07 quilômetros na nossa aventura gastronômica. Voces leram
certo, 07 mil metros de Havainas que não soltaram as tiras mas ficaram
enlameadas e empoeiradas. Búzios, embora encantadora, não oferece
acessibilidade para pedestres, ciclistas, cadeirantes, carrinhos ou para
qualquer pessoa com dificuldade de mobilidade e, também, percebemos um entorno
com moradores empobrecido e trânsito disfuncional, mas a gastronomia compensa e
a música reinante é a bossa nova. O horripilante funk, tão difundido no Rio de Janeiro, talvez, só lá na periferia.
Paulista é muito exigente e crítico, mesmo eu que moro em Mauá.
Como o tempo não colaborou,
retomamos a viagem, sentido Espírito Santo. Eu com uma alta expectativa de
encontrar povoados e praias tranquilas. Percorremos através da BR 101, que tem
o irritante limite de 50km/h e passa dentro dos bairros, assim conseguimos
rodar apenas 250 quilômetros durante todo o dia (ou 420 km) até Vila Velha. Uma
grata surpresa pela organização, limpeza e urbanização, diferente das notícias
televisionadas constantemente sobre atos de violência. Lembrou-me a cidade do
Rio de Janeiro, só que menos glamorosa, movimentada e sem arrastões, bom até
onde eu vi, considerando que eu fiquei menos de um dia lá, e sem turistas, com
temperatura mais baixa (pensando bem, agora falando assim acho que não lembra
mais o Rio. Não, talvez o Guarujá- SP?), com sua orla cheia de pessoas se
exercitando, bebendo água de coco, pedalando, com suas roupas e acessórios de
marcas famosas e acompanhadas com seus telefones celulares de última geração e
cachorrinhos mimados e entojados. Hospedamo-nos em um hotel com uma linda vista
para praia, piscina e com ótimo atendimento, embora impessoal, como é esperado
deste tipo de negócio. Para jantar, buscamos um local que servisse um prato
típico, que é a moqueca capixaba. Não encontramos.
Passeamos pela praia e eu
achei uma moeda no chão, peguei-a e já estava me sentindo sortuda quando o
Cássio, muito agitado, gritou: - larga que pode ser oferenda pra Iemanjá. Ato
reflexo joguei o dinheirinho na areia. Vai que a verdadeira dona fica irritada.
Eu e o Véio já temos um histórico recheado de problemas devido comentários desastrados
sobre representantes de divindades lá no Peru, imagina o que poderia acontecer
com uma ação tão direta.
Os restaurantes ou eram
longe ou já estavam fechado. Durante nossa procura pela rua principal que
margeia o mar, vimos em diversos anúncios de uma iguaria feita com peixe piruá.
Assim, entramos no único estabelecimento aberto (barraquinha na areia da praia)
e como ventava muito nos assentamos no lado de dentro. Éramos os únicos
clientes, ou assim imaginamos, e pedimos o tal piruá, que o servidor de mesa,
esclareceu ser um prato completo, com peixe, batata frita, banana frita, cebola
e salada, suficiente para duas pessoas comerem bem.
Enquanto aguardávamos o
garçom, também operador de som, responsável pela limpeza e caixa, sentou-se em
outra mesa e entabulou animada conversa com colegas de trabalho, morador local
e um caminhoneiro gaucho saudoso de sua terra e família, que à medida que se
embriagava acentuava o sotaque sulista, o uso de interjeições bem regionais e o
volume da voz, que rivalizava com a altura do vídeo clipe de músicas sertanejas (duas ou três que se repetiam). Assim
soube que o gaucho tinha 03 filhas, uma de 13 anos, tinha ido para uma festa de
aniversários e ele queria saber se ela tinha “ficado” com algum guri, caso
positivo ele ia “capa” o guri e entre muitos báaaaaaa’s tchê’s intermináveis e
a musica pavorosa, onde o cantador fala: - [... foi eu que paguei...], chegou a
nossa comida. Uma pilha de batatas, cebolas e saladinha, a banana eu não vi,
com o mirradinho do peixe piruá, com cabeça e tudo, por baixo, com dois pires
para apoio, talheres opcionais e guardanapo se conseguisse mantê-lo sobre a
mesa. Foi uma verdadeira epopeia comer sem derrubar as coisas na mesa, coberta
por uma toalha plástica memorável. Frustrados, com os dedos sujos e ainda com
fome pedimos uma porção de coxinha de carne de siri, que o Véio chamou
equivocadamente, por umas dez vezes, de perna de siri.
De manhã recomeçamos nossa
viagem. Passamos rapidamente por Vitória, que nos pareceu cosmopolita e bonita.
Seguindo a sugestão do funcionário do hotel, pegamos a estrada costeira, por
ser mais bonita e evitarmos, pelo menos por uns quilômetros a BR 101 e seu
limitado limite de velocidade.
Circundando a baia em Vitória
pela terceira ou sétima vez (quem é que estava contando??) fomos emparelhados
por um motociclista que ofereceu orientação e até nos comboiarmos para o acesso
à BR 101 - sempre a bendita. O Véio desconfiado (meio paranoico) recusou fazendo
gesto de positivo com a mão em sinal de “tudo bem, sou paulista e é claro tenho
GPS” e acelerou para dar distância entre o prestativo capixaba, ainda sob a sua
sonora informação:... – não tem erro e só fazer a curva no final desta via e já
tem placa para..., e assim fomos em frente, só que não fizemos a curva e
entramos sem autorização no pátio de uma enorme empresa. Saímos rapidamente,
mas não tão rápido para não levantar suspeitas. Mais um pouco circulando por lá
e já estaríamos conhecidos pelas redondezas, sem contar na tentativa inconsciente
do Véio de evitar reencontrar o simpático informante, aquele motociclista “...não
tem erro, é fácil...” e, é claro que nesse horário o sol já estava esquentando
e a cidade agitada, com tráfico intenso e zunindo, ainda bem que meu novíssimo
capacete tem óculos para sol acoplado e ventilação regulável.
Enquanto rodávamos e vislumbrávamos
o litoral do Espírito Santo, meus olhos ignorantes registraram um mar
amarronzado, que me sugeriu sujeira, já que a região tem um imenso Porto.
Posteriormente constatei que as areias são naturalmente avermelhadas o que reflete
nas águas do mar, causando um aspecto opaco e amarronzado. Olá Google.
Continuamos com destino a
Conceição da Barra, sentido litoral norte do estado. Retomamos pela BR 101, em
um trecho melhorado, mas mesmo assim, demoramos um dia inteiro para percorrer
um pouco mais de 300 quilômetros. Em determinado ponto o Cássio desviou,
seguindo a orientação do GPSGabriela, para uma estrada estadual com bastante
curva, que cortava a área rural. Cercada de pastos para bovinos, embora tenha
visco poucos animais, que finalizou em um vilarejo, e seguia por uns 14
quilômetros sem pavimentação e sem informação do estado de conservação. Aí
vocês já devem ter adivinhado que nesse momento eu solicitei delicadamente e carinhosamente
ao Cássio que procurasse outra rota, considerando que desconhecíamos o
percursos e o GPS estava sem sinal e que não valia o risco. Talvez na versão do
Veio a situação tenha sido mais para eu tendo um “chilique”, fazendo ameaças e
conjurando pragas, gritando palavras de baixo calão e impropérios....mas quem
está julgando?
O acautelado desvio nos
levou por seguros e asfaltados 160 quilômetros, entre vacas e o nada, até outra
estadual cercada de vacas e o nada e, então a cidade de Conceição da Barra,
vila de pescadores artesanais, pequenos agricultores e pecuarista. A pousada
escolhida, pesquisada no www.inbook
detinha todos os atributos que desejávamos quanto à tranquilidade, quietude e
proximidade da praia. Da pista à portaria da pousada são cerca de 2 quilômetros
de rua de areia. Como já estava anoitecendo agilizamos nossa chegada e bem no
portão a roda dianteira da moto deu uma travada no bolsão de areia fofa e quase
tombamos, mas uma manobra operado pelo Cássio, estilo Jedi, nos manteve em pé.
Com o coração pulando mais
forte, fechamos a pernoite sem olhar muito a cama, mas felizmente o quarto e o
local eram ótimos. A moça da recepção, que soubemos depois é filha da
proprietária, uma jovem alta e loira estilo modelo fotográfico, só que sem a
anorexia, respondia às nossas perguntas substituindo a palavra “sim” por
interjeições enigmáticas, como “ahraa” e “ahroo”, mas muito gentil e
cooperativa. Os hospedeiros simpáticos e acolhedores tratam os hóspedes como
familiares (sabe como aquela tia legal, não a prima impertinente e esnobe que a
gente encontra nos funerais e mal tolera).
Cansados da viagem optamos
por encomendar lanches a serem consumidos no salão da pousada.
A nativa nos esclareceu que
está sendo construído uma barreira de pedras entre as casas abeira mar e o
próprio mar, que nos últimos anos tem avançado sobre a praia. Disse que à
apenas 04 anos havia 50 metros de praia para os banhistas. Assim, apenas no
período da manhã (cedo) é possível banhar-se no mar e, ainda, com cautela.
Curtimos a piscina e umas porções na própria hospedagem. No período da tarde
fomos conhecer as dunas de Itaúnas e ver o por do Sol.
O caminho é feito por 20
quilômetros de estrada não pavimentada, mas bem conservada. O acesso às dunas é
feito a pé, morro acima de areia fofa, quente e instável. O Cássio teve que me
rebocar e mesmo assim as pernas trançavam com o esforço e acabei por cair de
joelhos. Soubemos que a cidade foi transferida para outro local, pois a areia
cobriu tudo, aparentes apenas pequenos pontos do alto das construções
encobertas, há pouco mais de 10 anos.
Perambulamos pela inclinada
e estreitinha praia de Itaúnas. Observamos o mar com ondas fortes e profundo e
voltamos ante do por do Sol. Eu estava preocupada com o retorno pelos os 20
quilômetros de terra batida sem qualquer iluminação e suporte. A milha
tolerância é baixa quando se trata de off
road.
Saímos para jantar, no
centro comercial de Conceição da Barra, mas como na região escurece cedo, parecia
mais tarde, mas ainda não eram 18 horas e o comércio estava fechado.
Encontramos um pizzaria (é tem em todo local) e pedimos pizza de siri, mas como
o estabelecimento estava abrindo as portas naquele momento o pizzaolo ainda estava preparando a carne
para a noite. A graça foi a cara de espanto do garçom quando escolhemos outra cobertura
e eu pedi para retirar o queijo. O homem rodeou, pensou e voltou para confirmar
a inusitada solicitação, esclarecendo que o produto poderia ficar “sem liga”.
Como já disse, paulista é muito exigente. Aqui em Sampa nada é estranho ou
impossível quando se trata de pizza ou horários para comer.
No dia seguinte, partimos
com objetivo de atravessar para o estado da Bahia, uns 250 quilômetros até Porto
Seguro, esperançosos, independente da distância não ser grande para os padrões
Dragões, que as estradas desta vez estariam melhores que as anteriores e a
viagem iria render. Cruzamos o canal de balsa, por incríveis 10 reais. Pensei
que estava comprando a embarcação.
Rodamos pelar orla, passamos
por pontos de “baladas” conhecidos como os preferidos dos formando de todo o
Brasil. Como estávamos fora de temporada, estava tudo tão quieto que ficou
difícil imaginar o motivo dos graduandos procurarem a cidade. Mas gosto não se
discute, e, depois, a moçada é muito influenciável. Vai-se saber.
Paramos em uma pousada –
Aldeia Portuguesa, de propriedade de uma angolana, apaixonada por carro
coreano. Acho que não a mulher não nega a descendência lusitana.
O local é bem grande, com
aspecto aconchegante e integrado com a paisagem e a natureza, mas os
dormitórios e o café da manhã seguem padrão de Hotel estrelado, que para mim é
muito conveniente.
Os restaurantes no entorno
fecham às 18 horas, a exceção de uma Casa Italiana, com donos italianos de
verdade. Pratos bem variados e preços de cozinha internacional. Acabamos
jantando todos os dias lá, pois quando pedimos sugestões para o rapaz da
pousada, ele, gentilmente, esclareceu que não tinha nada perto e era inseguro
andar pelas ruas: - Ohh, não é pra assustar, não, mas é que teve alguns
assaltos... Diante da nossa surpresa ele reagiu: - Viu, já ficou assustado!!!,
e continuou: - Vou lhe explicar, uns argentinos caminhavam pela rua principal,
com mochilas, dois assaltantes montados em uma moto levaram tudo. Assim dá-lhe cucina italiana, tutto bello e gustoso!
Participamos da principal
atração que é um passeio de escuna pela região.
Contratamos o passeio
através da pousada e aparte o translado para o porto. Quando o receptivo chegou
esclareceu que a van estava lotada, mas que um casal de turistas estavam indo
de veículo próprio e seguiríamos com os mesmos, e, ainda, que os valores pagos
seriam repassados aos caronistas. De forma que entramos em um carro não identificado
com pessoas desconhecidas rumo a outro município. Já estávamos para embarcar
quando o Cássio percebeu que tinha esquecido seu chapéu/companheiro de viagem
dentro do carro. O turista/chofer ainda teve que voltar ao local do
estacionamento para resgatar o acessório.
Durante o dia inteiro
circulamos pelo mesmo canal pelo qual atravessamos de balsa. Que ironia. E eu
que achei a passagem da balsa muito cara. Com um grupo de turistas estranhos e
esquisitos. Avistamos a Praia de Santo André. Demos tchauzinho para uma construção que foi erguida para ser a
concentração da seleção alemã, na Copa do Mundo realizada no Brasil. Naquela
onde os brasileiros levaram uma surra de 7X1 dos loirinhos, agora transformado
em hotel com diárias, segundo o capitão da nau, exorbitantes, acesso apenas por
água ou helicóptero, com direito a lembrancinhas dos campeões mundiais e
lencinhos para os sentimentais.
A embarcação servia bebidas
e tocava repetidamente funks e outras
coisas que eu não sei nomear. Ou pelo menos, nada que eu possa escreve sem ter
determinar censura de 18 anos para esta historia.
Descemos, em fim, em uma
Praia, acho que era a mesma avistada anteriormente, a de Santo André, e
caminhamos, caminhamos e caminhamos sobre os Corais, até bolsões de água aquecida
que se formam quando a maré está baixa, para interagirmos com a vida marinha,
sabem peixinhos, ouriços e estrela do mar. Os mais atrevidos fizeram flutuação,
atendendo a todos os requisitos estipulados pela sociedade protetora dos
oceanos e Greenpearce, para não esmagar
e matar os Corais, (que são animais cnidários da classe Anthozoa, que segregam
um exosqueleto calcário ou matéria orgânica e podem ser encontrados em todos os
oceanos) que são extremamente sensíveis e levam décadas para crescer, ou seja,
sem pisar, tocar ou arrancar nada, apenas fotografar e guardar na lembrança. Aí
vocês devem estar pensando, mas ela disse que os turistas chegaram até o local
andando sobre os Corais, dãã, mas esses já estavam mortos. Vai entender?
Provavelmente algum grupo anterior não respeitou o aviso de preservação...aposto
que eram argentinos.
O guia cutucou uma fenda e
tirou um ouriço vivo e feroz, do tamanho de uma bola de tênis....não, acho que
mais parecia uma bucha de piaçava com olhinhos, e expos a coisinha na palma da
mão. Esclareceu que o contato com os espinhos é que causa dor, infecção e
febre, segurá-lo por baixo o deixa indefeso. Muito inspirador e ecológico. Na
sequência puxou uma estrela-do-mar, gosmenta e estranha, que mais parecia com 6
minhocas xipófogas esperneando, caso minhoca tivesse pernas para tanto. O
Cássio consentiu que o moço depositasse a pobre criatura no seu ombro para
foto. Momento bizarro da viagem.
O passeio incluía almoço que
estava delicioso, principalmente o bobó de camarão. O grupo era grande e
ficamos esperando a fila diminuir. Foi estranho, pois os turistas, em sua
maioria paulista, primeiro atacaram o buffet
como se fosse faltar comida, comeram rapidamente e depois abandonaram as mesas
como se estivessem que combater um incêndio. Eu e o Cássio ficamos lá,
sozinhos, saboreando as iguarias.
No encerramento fomos à Ilha
do Sol, onde eu acreditei que teríamos tempo para apreciar uma praia mais
isolada e rústica interligada com o manguezal. Para minha surpresa, era
exatamente o oposto. Era uma loja de doces instalada em uma praia particular.
Só de raiva degustei tudo que estava à disposição, mas não comprei nada. Fiz um
boicote ao capitalismo selvagem. Aé, deu para fotografar uns caranguejos.
Na saída um fotógrafo estava
vendendo fotos tiradas durante o embarque e impressas em um azulejo. Bem legal,
embora nada artesanal. Compramos a com nossa imagem, mas esquecemos de pegar o
apoiador. Agora tenho que procurar nas lojinhas dos coreanos aqui em Mauá, ou
quem sabe em Santo André, para ficar no clima. O vendedor avisou para não
embrulhar antes de 24 horas, para garantir a secagem. Fizemos, conforme
orientado, mas quando desembrulhamos nossa imagem tinha migrado para o papel.
Parece aqueles vídeos ou fotos com os rostos distorcidos para garantir a
privacidade e a identidade de vítimas, delatores ou crianças.
No dia seguinte ficamos
descansando na beira da praia e comendo caranguejos. É tão trabalhoso quebrar a
carapaça do bichinho, que embora a carne seja saborosa, achei que não compensa.
Mas é tradição local e turista que é turista se submete, para ter vantagem para
contar nas reuniões de família.
O mar é quentinho, com águas
transparentes e calmas, formando piscinas, mas a maré sobe rápido avançando
sobre a praia, assim ficamos parte do tempo dentro das lanchonetes que beiram o
local. Muito relaxante.
Na manhã, seguimos para
Morro de São Paulo. Embora o percurso fosse curto, experiências anteriores nos
ensinaram que quando se trata de estradas nunca se tem certeza. E, nesse caso,
a esperança virou barreiras, asfalto de segunda linha, calor sem vento e a
previsão de 04 horas de rodagem transformaram-se em quase 08 longas horas.
Assim, ao invés de chegarmos com o dia claro, com tempo e oportunidade para
pesquisarmos sobre pousadas, guardarmos a moto em local seguro e ajustarmos a
nossa bagagem para apenas o necessário na ilha, pois o Morro São Paulo é uma
ilha com acesso exclusivo por embarcações, estacionamos a entrada de Valença,
onde tem um dos portos, quando já passava bastante das 17 horas e a última
lancha partia às 18 horas.
No portal da cidade fomos
abordados por um motociclista e, embora inicialmente não tenhamos dado atenção
aos seus anúncios, ele foi insistente e acabou nos seguindo/comboiando até a
bilheteria, mostrou um estacionamento particular e mediou nosso translado até
ilha. O local é horrível. Deprimente, suja, movimentada, confusa e barulhenta.
Devido o adiantado da hora, negociamos com responsável pelo estacionamento para
deixar a moto, demos uma gorjeta, que o Cássio chamou de suborno para que a
pobrezinha da Fiona fosse bem tratada e, também, os capacetes, e embarcamos com
as roupas de viagem e todas as malas.
A expressão do Véio à medida
que nos afastávamos do porto e, consequentemente da moto, era comovente, de dar
pena, mas foi sendo substituída por um medo contido enquanto a lancha ganhava
velocidade, que nem é muito alta, em torno de 23 nós, e a escuridão envolvia
tudo a ponto do capitão ter que colocar a cabeça para fora através da janela
para enxergar o caminho. Pensando que sentar do meio para frente da lancha
fosse mais seguro, esprememo-nos entre os demais passageiros e muitas bagagens.
Ao longo dos 35 minutos de viagem concluímos que estávamos bem no ponto de
maior oscilação da embarcação, que levantava e quicava na água.
A chegada no Morro foi
tumultuada. Logo na entrada tivemos que pagar a taxa de preservação ambiental e
quando solicitamos um mapa de apoio o funcionário simplesmente esclareceu que:
- cabô moça.., só perdoei por que me chamou de moça, rejuvenesci uns 15 anos,
por 5 minutos.
Como não entra veículos
automotivos no local os nativos usam uma carriola de mão para o transporte das
bagagens e de até alguns turistas. A disputa pelo carreto e acirrada, chega
quase ao confronto físico. Ainda tem o assédio dos representantes das pousadas
e restaurantes. Tudo o que não gostamos quando visitamos um lugar, assim logo
de cara o Morro perdeu parte do seu brilho. Outra surpresa foi que a ilha é
ponto de baladas e atividades noturna e eu e o Véio estamos no ritmo de acordar
cedo e dormir cedo. Tudo a ver.
Seguindo a indicação de uma
colega de trabalho e considerando que a noite já ia alto, embora fosse apenas
19 horas, ficamos na primeira pousada que consultando. O quarto ficava em
frente ao mar e o barulhinho das ondas embalou nossos sonhos.
Para comer procuramos o
centro comercial, morro acima, que oferece muitas opções, com preços
interessantes. Sentamos em um acolhedor restaurante, servido por uma jovem
simpática e muito calma. A cada pedido a garçonete ia verificar se estava
disponível, quando não, ela retornava com um sorrizinho de desculpa e falava: -
iii moço hoje o senhor tá sem sorte, não vai ter... e iniciava uma arrastada
explicação sobre o sistema de distribuição dos ingredientes e relação com os
fornecedores do continente para com a ilha.
Mas lá foi o local onde
comemos a melhor refeição da viagem, uma moqueca mista completa, e olha que
tínhamos feito refeições ótimas ao longo dos dias, a exceção do peixe piruá,
lembra?
Na manhã, decidimos caminhar
pelas areias e conhecer as belezas da ilha que é formada pó 10 praias. Lá pela
quarta parada, eu já estava cansada, observamos a formação de piscinas no mar,
com a presença de cardumes de peixes e outros seres marinhos. Divertimos-nos
muito.
Para o almoço, quase janta,
entramos em um local, fizemos o pedido e enquanto aguardávamos um casal da mesa
ao lado levantou-se de forma abrupta, aproximou-se de nós e de forma enfurecida
disse: - não comam aqui, comida ruim, reaquecida em micro ondas... ficamos em
estado de choque e depois tivemos uma crise de riso. Aproveitando a demora e um
letreiro informativo que o estabelecimento não aceitava cartão para pagamento,
cancelamos o pedido e saímos. Tal foi à pressa que eu esqueci o meu chapéu. O
garçom correu atrás de nós, e se não fosse outros transeuntes me alertarem, eu
teria continuado a me afastar rapidamente, pois me sentia culpada pelo
cancelamento do pedido e achei que o mesmo estaria cobrando qualquer taxa de
prejuízo ou multa rescisória do restaurante.
Enquanto passeávamos uma
pessoa falando portunhol sugeriu uma
visita ao Farol do Morro e assistir o por do Sol. E lá fomos nós, morro acima,
por uma escada sinuosa. No alto, também, fica o mirante e instalada a tirolesa,
de onde é possível ver todo o mar e parte das praias.
O Véio ficava insistindo
para circundarmos o farol para ver o por do Sol, mas eu olhava e não via
qualquer caminho oficial para tanto e como eu sou uma lerda para caminhar em
trilha e ainda nas alturas não quis ir. Quando estávamos retornando observei
pessoas sorridentes saído de um caminho falando da beleza do poente. Aí
decidir, enfim, acompanhar o fenômeno, mas um turista com veia comediante
garantiu-nos que o caminho era seguro, mas que o Sol já tinha se recolhido, que
se eu tivesse chegado uns 3 minutos antes...que agora não veria nada, além do
escuro. Assim, desci a íngreme escadaria, com o Cássio resmungando no meu
cangote.
Cansados de tanta areia e
mar, encaminhamo-nos para o interior da Bahia, sentido Chapada Diamantida.
Agora as estradas estavam melhores, o clima bem mais quente e seco com vento e
o calo do meu dedinho do pé, onde a bota pega, reclamando. A paisagem mudou
radicalmente, agora estávamos cercados por plantações de coisas rasteiras não
identificáveis, pastos com umas vagas magrinhas e um nada por horas.
Chegamos, só para não
quebrar a rotina, próximo ao cair da noite. A estradinha de 12 quilômetros que indica
o portar a cidade de Lençóis, nosso destino, dentro do Parque Estadual da
Chapada Diamantina, é uma serra arborizada e bonita. Mas o portal é apenas a
placa mesmo que anuncia a proximidade da cidade.
Atravessamos o município,
retornamos e entramos no estacionamento de uma pousada grande. Eu saltei da
moto, pois já estava cansada, e fui me informar sobre as condições de pernoite.
Enquanto isso o Véio estacionava a Fiona no pátio revestido por pedras. Quando
fui surpreendida por um barulho de ferro arrastando, virei-me e deparei-me com
o Cássio semisentado na moto, que mesmo com o pezinho de apoio, devido à
inclinação do piso, estava escorregando e tombando. Novamente o Cássio, apesar
de pálido, realizou outra manobra Jedi
e evitou a queda. Caso a Fiona tivesse caído, penso que só um guincho ou umas 4
pessoas seriam necessárias, incluindo-me fora, porque eu sou fraquinha e
frágil, para levantá-la.
Como não tinha vaga
procuramos outro lugar. O que acabou sendo muito legal, pois o proprietário
Paulo Cesar, o PC, da Pousada Recanto das Árvores também é mototurista,
integrante de Moto Clube, e nos sentimos em casa. O PC até emprestou umas
ferramentas para fazermos a manutenção da Fiona, uma tal de chave que o Cássio se
esqueceu de levar, e contou várias histórias de suas aventuras pela chapada e suas
belezas.
A pousada é muito
aconchegante, com um restaurante rústico e totalmente integrado com a natureza.
O quarto enorme, com espaço para 6 pessoas, e uma varanda com rede onde pudemos
estender nossas roupas, além de um café da manhã delicioso e diversificado.
Estávamos próximos do centro
da cidade e saímos a pé para jantar. Eu de chinelinho para dar uma folga ao meu
calinho. Para nossa surpresa, local é ponto turístico, histórico, com
pitorescas construções do período do auge da extração de minério, hoje
transformadas em pequenos restaurantes onde os clientes ficam em mesas disposta
nas ruas e lojas, com profissionais poliglotas e muitos estrangeiros
proprietários e turistas, pavimentada com pedras irregulares e escorregadias, o
que fez um estrago nos meus pés, além de artistas saltimbancos.
Comemos uma deliciosa
fritada com diversas carnes, acompanhada de salada, e desfilamos com uma
garrafa vazia de cerveja exótica de maconha. A única coisa que me desagradou
foi o número significativo de crianças perambulando em situação de trabalho e
nenhum serviço de proteção às mesmas.
No outro dia fizemos um
passeio para conhecer os morros da chapada, que são os principais cartões
postais da região. Conduzidos por guias simpáticos fomos até o alto da montanha
por uma trilha de pedras, sob um calor danado.
Considerando que eu só subo
escada rolante (aquela elétrica dentro dos shoppings)
foi quase um suplício. Metade do cominho o Cássio me puxou e na outra um dos
guias me rebocou para o topo. A visão da chapada é magnífica. De lá é possível
avistar todo o vale e demais montanhas.
Depois o transporte
estacionou na via para termos uma visão de uma montanha que, olhada com muita
criatividade e vontade, parecer ter o formato de um camelo sentado. É o mesmo
processo de ver figuras nas nuvens, água e etc.
A outra parada nos levou
para observamos as cavernas de formação sedimentar milenar. Considerando que eu
tenho fobia de espaços fechados e confinado foi um grande desafio. Cada um de
nós recebeu uma lanterna, eu queria mais, mas não tinha, e o guia especializado
carregava um lampião a gás. Na entrada da caverna o profissional solicitou
silêncio, pois a região é cheia de abelhas africanas assassina, sensíveis ao
som. Nunca houve um episódio de ataque, mas sempre é melhor prevenir. Fiquei
pensando o que “diabos” abelhas africanas fazem no coração do Brasil, mas
preferir seguir a recomendação e me calei, e todos que me conhecem sabem que
isso é uma grande dificuldade, principalmente se estou ansiosa ou nervosa, faz
parte da minha charmosa personalidade ser muito falante e comunicativa.
Talvez pelo nervosismo ou um
novo distúrbio adquirido com a idade, a poeira começo a me deixar com
dificuldade de respirar e muita coceira no nariz e os olhos.
A caverna é muito grande,
alta e ventilada. O caminho demarcado com cordas, às luzes das lanternas e o
apoio do Cássio garantiram que o eu transpusesse o percurso de forma tranquila.
No ápice do passeio, o guia solicitou que todos desligassem as luzes e
contemplassem o total e absoluto escuro e silêncio, e assim fizemos. Mas, de
repente, eu que estava suportando bem as coceiras soltei um espirro forte. Não
houve tempo para reprimir. O barulho retumbou na caverna, quebrando todo o
clima, desencadeando a risada de outros turistas e em mim, que quase fiz xixi
na roupa. Rapidamente o guia reacendeu o seu lampião e retomou a caminhada sem
qualquer comentário, mas eu sentia o seu ressentimento pelo meu ato
desrespeitoso. Ou não, pois assim o passeio terminou mais rápido. Acho que
inconscientemente meu organismo criou um mecanismo para agilizar a minha saída
da caverna. Quem sabe os mistérios da mente...
Após o almoço, fomos até uma
fazenda particular que tem braço de rio com águas cristalinas e frias, que
forma uma prainha linda, batizada de Prainha Azul. Passamos as horas finais no
local. Ficamos na água e peixinhos, muitos peixinhos pequeninos mordiscavam
nossos corpos. Mordidinhas afiadas e contínuas. Eu fique pensando que talvez
eles soubessem que eu tinha comido carne de peixe, quem sabe algum parente, e o
ato fosse uma vingança orquestrada por um líder revolucionário esquerdista
tentando inverter a lógica da cadeia alimentar.
Eu retornei à pousada
exausta e com dor no joelho, além de alguns espirros ocasionais. Achei que eu
ei precisar tomar analgésico.
Saímos para jantar e eu
calcei tênis, para poder andar pelo calcamento, mas não resolveu muito
continuei escorregando e derrapando. Era cedo para os padrões locais, assim sem
muitas opções pedimos uma taboa de carne com mandioca, que eu não gostei, além
do serviço ruim e demorado.
Para compensar ficamos o dia
seguinte inteiro na piscina para eu relaxar e descansar meu corpo. O PC
organiza passeios de quadriciclo por trilhas, bem legal, mas eu não ia aguentar
ficar no lombo de um moto, mesmo que fosse uma de quatro rodas, em essência é a
mesma posição. Mas tirei umas fotos montada, só para registro.
Despedimo-nos da Bahia rumo
à Goiás do jeito que eu gosto. Mais de 800 quilômetros em uma estrada reta, sem
chuva, pouco tráfico, com uma média de 140 km/h e até beliscamos as margens de
Brasília. Muito divertido apesar do imenso calor atingindo até 42,5°.
Passamos em Cristalina para
eu olhar os cristais e pedras transformadas em joias, mas, apesar da beleza dos
artefatos comprei apenas um pingente em formato de coração. Não estava
inspirada.
Mesmo com excelente
rendimento, tivemos que parar para pernoite na cidade Luiz Eduardo Magalhães.
Estávamos circulando em
busca de hotéis quando fomos abordados por um homem, pilotando uma VStrom, que
comentou conhecer um hotel onde o proprietário amigo dele, também motociclista,
costumava receber mototuristas com um preço justo e conforto. E lá fomos nós,
atrás de um pleno desconhecido para um destino incerto. O rapaz passou por
dentro do pátio de um posto de combustível, entrou na contramão (só um
pedacinho) para cruzar uma via expressa e nós, firmemente, seguindo-o.
Mas, enfim, o motociclista
chara do Cássio, que por coincidência conhecia o PC da Chapada Diamantina, não
era nenhum sociopata. Enquanto eu me acomodava no quarto bem confortável e
descalçava a minha bota o Véio acompanhava o Cássio, o Nei, dono do hotel
Veneza e outro motociclista para uma troca de experiências de viagens e ver as
máquinas dos novos amigos.
O Nei informou que estaria
acontecendo um encontro de motoclubes em Goiânia. Questionamos os novos amigos
se participariam do evento, e o Nei nos respondeu que não, pois lá estava
fazendo muito calor. Helloo!? Calor quanto, se na cidade os termômetros
marcavam perto dos 38°, e isso depois do Sol se por?
Por indicação dos nativos
fomos a uma pizzaria (é existe em todos os lugares). Quando estacionamos o dono
estava abrindo o local. Aguardamos um pouco, bebericando um refrigerante,
enquanto o forno aquecia, (tipo uns 5 minutos). Difícil foi explicar ao garçom
para não colocar queijo na pizza. Estou ficando cansada da ditadura do queijo!
É difícil ter um paladar refinado neste mundo gastronômico obtuso.
Dormimos muito bem e
continuamos a viagem sentido Caldas Novas. Apesar das estradas estarem em boas
condições, fazia muito calor e eu fui ficando muito cansada e com dor nas
pernas. Mas chegamos bem, sem intercorrências. Paramos na praça principal em
busca da Central de Apoio ao Turista, mas não encontramos e, também, nada de
motociclistas acolhedores ou pessoas simpáticas. Muito pelo contrário. O que
observamos foram rostos sisudos e atitudes que indicavam certa
hostilidade. Andamos um pouco e
desistimos.
Na entrada da cidade tem
muita propaganda de hotéis e dos parque aquáticos. Atendendo a um destes nos
registramos na Rede Di Roma, em um apartamento particular. No preço não estava
incluso as refeições, só aceitava dinheiro vivo e à vista. Assim, mais uma vez
o destemido Véio saiu na companhia de um total desconhecido, em uma cidade
totalmente estranha até um caixa eletrônico sacar dinheiro.
Só depois que estávamos
instalados percebemos que não havia roupa de cama e o controle do ar
condicionado estava encaixado em um suporte parafusado à parede, impedindo o
manejo da temperatura. A roupa eu solicitei à camareira que a entregou rapidamente
e o Cássio sacou seu canivete e desparafusou o controle, tendo o cuidado de
recolocá-lo sempre que saíamos do quarto.
Retornamos ao Centro para
jantar e abastecer o frigobar para o café da manhã em um mercado 24 horas.
Achei os preços superiores aos praticados em São Paulo.
Na principal praça os
representantes dos restaurantes disputam os clientes de forma competitiva e
agressiva, abordando e perseguindo os transeuntes.
O nosso objetivo era comer
um prato com pequi, que é uma fruta ou é um legume da região. Pedimos uma
“panelinha” composta por arroz, pequi picado, carne de sol e linguiça.
Acompanhada de saladinha, no caso meio tomate fatiado e um pedacinho de cebola
em rodela e feijão com caldo ou tropeiro. Escolhemos o tropeiro. O garçom fez
uma cara de “quem manda é o cliente...” Quando a comida chegou decodificamos a
expressão do servidor de mesa. O arroz, apesar das carnes, é seco; feijão é com
farinha, então seco; foi necessário muito refrigerante para engolir tudo, mas
estava saboroso. Contudo o pequi não tem gosto de nada especial. Parece uma
cruza de manga com pimentão amarelo, tudo sem sabor.
Retornamos ao hotel para
aproveitar as piscinas termais. Ficamos um pouco, mas eu estava com muito sono
(novidade) e fui dormir.
Tomamos nosso café da manhã
dentro quarto, pela primeira vez, e fomos ao Parque Aquático Di Roma. Na saída
do hotel fomos abordados por uma representante comercial do conglomerado Di
Roma, nos convidando para conhecer os empreendimentos, por um período de 50
minutos, e ganharíamos um brinde a escolher: almoço dentro do Parque ou jantar
no principal hotel do grupo e uma bolsa. Escolhemos o jantar.
Seguimos a vendedora a uma
sala institucional, onde fomos, de forma incisiva, apresentados a um plano
mirabolante de fidelidade ao Di Roma e associados. O Cássio estranhamente
começou a digladiar com pobre da trabalhadora, como se nós estivéssemos no
local “obrigados” ou pior, tivéssemos sido “enganados”. A ponto da encarregada
simplesmente entregar a bolsa o voucher do
jantar e nos dispensar, falando: - Alguma dúvida a mais? Então a saída e ali, a
moça vai acompanhá-los! O Véio ainda saiu resmungando que tinha perdido tempo
de uso do Parque.
Passamos o resto do dia
brincando nas atrações aquáticas. Bem legal. Mas acho que eu estou ficando
velha. Tenho medo dos toboáguas, fechados, fico ansiosa. O local estava vazio,
só algumas crianças irritantes e barulhentas sob um calor de rachar qualquer
coisa.
No período da tarde eu
estava sonolenta devido aos exercícios dentro das águas, o sol e, bem eu nem
preciso de nada disso para ficar com sono, mas acho que os elementos citados
contribuíram.
Jantamos no restaurante
restrito do Di Roma. O cardápio é muito bom, diversificado e com bebidas não
alcoólicas incluídas.
No outro dia, de manhã, saímos
para um tuour nos pontos turísticos
da cidade. A primeira parada ficava a menos 1 km do hotel, nem valeu o trabalho
de entrarmos o micro ônibus. O local é o centro de artesanato e chocolates
gaúchos. Comprei chocolate Caracol e chaveirinhos. A segunda parada foi em uma
cachaçaria artesanal, onde o Cássio degustou o principal produto do local. Ele
comentou posteriormente que foi a pior pinga que já experimentou. Depois fomos
até o Parque Oriental. Bonito mas igualzinho a todos os outros construídos.
Entramos e uma jovem guia iniciou as explicações, esclarecendo que teríamos
tempo depois para fotos, mas quase ninguém deu atenção à moça. Distraímo-nos
fazendo pose para self e perdemos a
exposição, assim, eu não sei fez e por que tem um Jardim Japonês naquela terra
quente, já que não observei qualquer outra influência oriental na região. Lá é
mantida como forma de museu a segunda casa mais velha de Goiás. Finalmente
paramos em outro museu que foi a residência dos Gonzagas, família importante e
influente. Em um dos cômodos, sem qualquer descrição, havia algumas fantasias
como aquelas usadas em rituais da kun
Klux Kla, só que coloridas e tochas. Deduzimos que dessa vez os alvos dos
perseguidos não eram pessoas negras, sem trocadilho – alvo X negros, e, sim os
homossexuais. Mas pesquisando descobrimos que são alegorias folclóricas ligadas
a Queima do Judas, uma Festa que envolve ritos pagãos, afrodescentes e
católicos.
No período da tarde aproveitamos
todos os benefícios do Hotel, com suas 6 piscinas, 4 delas aquecidas e uma com
hidromassagem colada ao bar molhado. Animador fazendo aula de dança e hidroginástica
com os hóspedes. Muito relaxante e divertido. O Véio declarou que eu o estava
envergonhando, pois me juntei à galera durante a brincadeira de axé e funk. Nada de sertanejo na terra do
Sertanejo? No jantar, comemos no próprio hotel uma ótima comida.
Dormimos cedo para termos
fôlego até São Paulo. Nesse ponto já tínhamos abortado a ideia de contornar
Minas Gerais, pois no caminho percebemos que não havia pontos turísticos identificados
no Mato Grosso do Sul e o calor estava nos esgotando. Assim viemos por Uberlândia
– MG, até Barra Bonita – SP, voando baixo, por estradas ótimas. Junto conosco
veio a chuva.
Pernoitamos em um hotel adaptado
dentro de um antigo galpão, mas sem qualquer glamour e com um cafezinho
medíocre, como fomos descobrir na manhã seguinte. Fiquei mal acostumada com o
tratamento VIP ao longo da viagem.
Andamos pela cidade que é
bem bonita e organizada em busca de um local para jantarmos. Sentamos em uma
lanchonete e enquanto decidíamos o que comer 3 japoneses, sendo que uma delas
se abanava freneticamente com um leque, perguntaram algo como: - Lestaulant gilasol onde? Como não
reagimos inicialmente à mulher repetiu a frase, falando mais rápido, mais alto
e movimentando intensamente o instrumento de abano como se fosse uma arma
samurai. O Cássio conseguiu entender o questionamento e misturando gestos e
palavras revelou a direção do estabelecimento. Eu, é claro, estava rindo. Ah,
vai dizer que não é surreal uma japonesa falando enrolado e se movimentando
como se estivesse imitando a Princesa Kitana do Mortal Kombat....
Acabamos seguindo os
estrangeiros até o restaurante Girassol, onde os mesmos estavam entabulando uma
conversa animada e em japonês com o dono, e pedimos um peixe na telha, que mais
parecia uma sopa de tanto molho de tomate, que deixou muito a desejar para o
nosso paladar. O local tem música ao vivo e a dupla sertaneja já estava fazendo
os preparativos. Enfim, depois de passar por Goiás, berço dos mais famosos
cantores de sertanejo, onde eu só ouvi funk
e axé, foi em São Paulo que reencontramos o estilo.
O japonês dono do
restaurante perguntou se nós íamos fazer a excursão de barco pelo rio Tietê,
quando confirmamos ele desqualificou a comida servida durante o passeio e
sugeriu que almoçássemos ali com ele, bem mais barato. Preferimos arriscar no
barco. Aff, japonês “fura olho”.
Deixamos nossa bagagem na
recepção do hotel e embarcamos às 11 horas. Felizmente o tempo tinha firmado.
Há três empresas que fazem a
exploração náutica do rio. Escolhemos a que tinha a embarcação maior. Com
capacidade para 200 pessoas, mas tinha apenas uns 40 passageiros, o que nos
possibilitou circular e aproveitar bem o trajeto. Fim de semana “fraco”,
segundo o Capitão.
Adorei a proposta e fiquei
muito impressionada com o sistema de engenharia da eclusa sem uso de força
motor, e o almoço, contradizendo a previsão do concorrente, estava bom.
De volta à estrada paramos
em Limeira porque nossos amigos dos Tartarugas de Aço estavam rodando sentido à
cidade para um encontro de motoclubes. Ficamos um pouco perdidos procurando o
endereço do evento e em determinado momento observamos um motoqueiro em uma
esportiva, portanto nos critérios do Cássio uma pessoa confiável, ou pelo menos
de bom gosto. Fizemos contato e ele nos informou que estávamos indo no sentido
errado. Ao voltar percebi inúmeras loja e fabricantes de joias. Fiquei muito
empolgada, pois acho que tenho sangue cigano, adoro um ouro e brilhos, mas
devido à hora o comércio estava fechado.
Um frentista nós indicou um
hotel nas imediações. Quando entramos no local havia vitrines com joias
dispostas por toda a recepção, verdadeiras obras de arte. Fiquei encantada!
Instalamos-nos e fomos até o
evento, apesar do cansaço. Quando entramos estava acontecendo o show do Ozzy
Cover e toda a minha fadiga foi lavada pela boa música.
A praça de alimentação era
diversificada, mas eu achei a comida muito cara e o banheiro era químico.
Fiquei apavorada, pois este é o tipo de ambiente que personifica minha fobia –
pequeno, fechado, abafado, com trava, sujo, escuro.
No outro dia chegamos cedo
ao local para reservar cadeiras e mesas para os Tartarugas. O calor quase nos
cozinhou. Eu ainda desvesti a roupa de viagem e descalcei as botas, o Véio não
foi tão prevenido e quase desidratou, principalmente porque não podia se
refrescar (muito) com cerveja, por questões de segurança e legalidade.
Reencontrar a turma foi bem
legal. Aproveitamos para atualizar as fofocas. Retornamos todos juntos.
Nossas férias foram
muuuuuito legais. Só com saldo positivo de lembranças alegres, contato com
lugares, culturas e pessoas diferentes, aventuras, muitas fotos e,
principalmente um recorde, pois eu o Cássio e a Fiona voltamos inteiros e
saudáveis, estou ai desconsiderando as altas da pressão arterial do meu
maridinho.
Já estou pensando no próximo
ano!
Lucilene
03/10/2015
Quanta aventura, hein?
ResponderExcluirPensando naquela parte que você fala da coloração do litoral do Espírito Santo, se fosse uns dois meses depois, ai sim que a coloração estaria "bem diferente" (tragédia de Mariana).
É isso aí meus caros amigos!
Que vocês continuem sempre bem e rodando em grandes explorações por esse nosso maravilhoso Brasil! (e também fora dele...) - Ademir